Entrevista Almeida Filho (UnB): métodos mais apropriados são os de cada professor
J.C. Paes de Almeida Filho é professor na Universidade de Brasília e fundador da primeira Associação Estadual de professores de Inglês no Brasil-APLIESP
José Carlos Paes de Almeida Filho é professor de linguística aplicada do Programa de Graduação em Letras e no Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Universidade de Brasília (UnB). Bacharel e licenciado em letras pela PUC de São Paulo, é mestre em educação em língua estrangeira pela Universidade de Manchester, na Inglaterra e doutor em linguística pela Universidade de Georgetown, em Washington (DC), nos Estados Unidos. Autor de inúmeras obras, Almeida Filho é principalmente professor de línguas, formador de professores e estudioso dos processos de aprender e ensinar línguas. Ele foi o autor do projeto de pesquisa que levou à formulação do exame que serviu de base para o atual teste padronizado de português para obtenção do Certificado de Proeficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras) e iniciou também o Projeto de História do Ensino de Línguas no Brasil (Helb).
Para ele, os métodos mais apropriados para o ensino de inglês são os de cada professor, desde que ele reconheça qual método tem na prática e a qual abordagem, filosofia ou família ele pertence.
Almeida Filho defende a realização de um Exame Nacional ou Estadual de Confiança no Uso da Língua, a fim de estimar o nível de operabilidade comunicacional de cada professor. “A partir dessa estimativa, poderíamos estabelecer iniciativas escalonadas que incentivassem os docentes a crescer não só na capacidade de produção na língua mas também nas outras competências profissionais”, acredita o professor, que postula ainda a realização de um exame nacional de proficiência em inglês.
Jornal do Professor - Quais os métodos mais utilizados para o ensino de inglês no ensino fundamental?
Almeida Filho – A palavra método pode se referir a material didático ou a um dado conjunto de procedimentos de ensino e, ou aprendizagem propriamente ditos. De todo modo, os métodos de ensino são orientados por um conjunto ou sistema de ideias sobre o que é língua. O que é aprender/adquirir língua/outra língua e ensinar língua/outra língua. Essas ideias formam uma visão ou filosofia do ensino de línguas. São elas que tornam possível o professor ensinar como ensina. Os professores e também os aprendizes podem conhecer, ter consciência de falar ou escrever sobre essa visão ou não. Muitas vezes o professor não pode explicar de onde tira o ensino que produz, mas isso não quer dizer que ele ou ela não tenha uma filosofia ou abordagem de ensinar. As concepções que formam uma filosofia ou abordagem podem ser oriundas predominantemente de crenças e memórias que se acumularam nos professores (e também nos alunos e em terceiros) sem que eles tenham se dado conta.
Na longa história do ensino de línguas no mundo e no Brasil, os métodos mais usados pertencem a uma abordagem gramatical. Isso quer dizer que o ensino e a aprendizagem frequentemente sintonizada com ele são organizados por uma lógica de centralidade da gramática. Organiza-se o ensino pela gramática e ajustam-se as unidades para neutralizar efeitos desgastantes do trabalho ao redor da forma da língua-alvo. Os métodos mais usados hoje nas escolas brasileiras são: o gramatical estrutural audiolingual (com diálogos, explicações de estruturas e itens de vocabulário e muita prática de padrões de estrutura da nova língua que estiver sendo aprendida) e o gramatical, estrutural, audiolingual atenuado de repetições mecânicas. Esse último termo quer dizer entremeado de algumas características mais externas ou superficiais da outra grande abordagem, a comunicativa, essa mais desejada do que implementada de fato. Essas características epidérmicas, em minha observação nas escolas, são: inclusão de alguns textos no lugar de diálogos inventados para certas situações, fotos reais de pessoas e personagens, práticas em pares ou pequenos grupos, transformação de um contexto qualquer para o do aluno com o propósito de ele produzir frases sobre si mesmo, sua família e amigos. Para conhecer melhor os métodos da abordagem ou família comunicativa.
JP – Em sua opinião, qual ou quais são os mais apropriados?
JCPAF – Os métodos mais apropriados são os de cada professor, desde que ele (re) conheça qual método ele tem na prática e a qual abordagem, filosofia ou família ele pertence. Aprendi essa verdade com o linguista aplicado indiano Nagore Prabhu, no artigo hoje clássico, chamado de “There is no best method – Why?” (Tesol Quarterly, Vol.24, No. 2, 1990). Conhecendo qual é o nosso método a partir dos procedimentos que usamos para ensinar, muitas vezes reconhecidos por um nome como os que apresentei na resposta anterior, podemos associá-lo a um matiz de uma das duas grandes abordagens. Daí, começamos a estudar mais sobre métodos e abordagens de hoje nos livros, artigos profissionais, cursos e seminários que as associações de professores e universidades promovem e vamos tentando fazer os ajustes possíveis, lentamente, enquanto ensinamos nos semestres. Esse método de formação dos professores é hoje reconhecido como método formador pela reflexão ou reflexivo. Há muita literatura sobre ele disponível em livros, artigos impressos ou mesmo na rede.
JP – Qual sua opinião sobre a utilização da abordagem sociointeracionista (que concebe a aprendizagem como um fenômeno que se realiza na interação com o outro) para o ensino de língua estrangeira?
JCPAF – As teorias vindas de áreas afins como a psicologia e a linguística podem ser úteis embora parciais. Eu não considero adequado que um especialista e um professor da área de aprendizagem/aquisição e ensino de línguas se restrinja a uma escola ou vertente de um dos formantes da abordagem ou filosofia de ensino de línguas. A teoria sociointeracional tem mérito incontestável, mas ela não foi gerada na tradição da nossa área e, portanto, não precisa ser plenamente satisfatória para nós. Além de uma teoria de aprendizagem, precisamos de um ensino de língua (s), de uma concepção de língua e de atitudes condizentes com o momento histórico em que vivemos. Prefiro, assim, conhecer e aperfeiçoar os conceitos de abordagem gramatical e comunicacional, na complexidade ajustada a nossa área com que eles se constroem e nos servem. Ao invés de abordagem sociointeracional, usando o termo sem o rigor da área conforme venho desenhando seu contorno preferível, utilizo consistentemente desde sempre a expressão abordagem comunicativa que contém teorização mais ampla do que sociointeracional e mais compatível com as nossas necessidades teóricas e profissionais. A abordagem comunicativa visa prioritariamente desenvolver competência comunicativa (de uso da nova língua) numa visão de desestrangeirização dessa língua para os novos aspirantes ao seu domínio para nela circularem socialmente. O princípio organizador dela não é a gramática, mas a busca de sentidos co-construídos na interação motivadora, interessante ao aprendiz, que faz produzir linguagem adequada para que a nova língua comece a ser adquirida desde o início e não somente algum dia, se ocorrer.
JP – As instituições de ensino superior estão preparadas para formar bons professores de inglês? Em caso negativo, o que seria necessário para atingir bons resultados?
JCPAF – Das instituições se requer um projeto de formação inicial que começa com a contratação estratégica de formadores e lhes dá condições para agir ao longo de alguns anos seguidos no mesmo projeto. Desses formadores se requer: (1) experiência prática apropriada, diversa e crescente no próprio ensino de línguas, além de (2) uma capacidade de mover-se no universo de atuação profissional como o dos eventos mantidos por associações ou sociedades científicas e pelas instituições de ou direcionadas para a investigação, (3) conhecimentos sobre o que há disponível na forma de teoria (T) gerada por outros e por seu próprio esforço investigativo sobre os processos de ensinar e de aprender línguas, seguido de (4) qualificação atestada por títulos universitários na área apropriada (ensino de línguas, afeita à linguística aplicada) e, (5) uma atitude de compreensão paciente e perseverante. Resumindo: (1) tempo de experiência, variedade de práticas, uma dada progressão na carreira e um certo engajamento profissional (pertencimento a associações, frequência a congressos, organização de eventos) e qualidades de personalidade, (2) uma capacidade de reflexão (autocrítica) que leve a apresentações públicas e a publicações e, (3) conhecimento apropriado (teoria adequada). Por adequada quero dizer “diretamente dirigido ao processo mesmo de ensinar e de aprender (outra) língua”.
JP – Um aluno que estuda inglês em um curso voltado especificamente para esse ensino aprende mais do que outro que tenha aulas de inglês somente na escola? Em caso positivo, por que isso ocorre?
JCPAF – É verdade que as escolas de línguas contratam professores com proficiência mais alta e que as outras escolas admitem professores sem o devido comando para manter o inglês em uso na sala de aula. Vivemos numa cultura escolar leniente, pouco exigente e sem metas crescentes de qualidade. Vale lembrar que as escolas regulares do ensino fundamental têm compromisso educacional que não se exaure com o ensino do sistema do idioma e isso implica outras qualidades exigidas dos professores de escolas regulares. As secretarias de estado de educação e o Ministério deveriam pactuar essa mudança mediante aplicação não-obrigatória, a princípio, de um Exame Nacional de Proficiência em Inglês.
JP – O que é mais importante para ensinar inglês no fundamental: o professor, o material adotado ou o método utilizado?
JCPAF – Nas condições de severas restrições em que vivemos no ensino regular de línguas, salvo honrosas exceções de escolas já conscientes de sua responsabilidade, eu não elegeria nenhuma das alternativas ofertadas como a mais importante. O mais impactante fator, na minha análise atual, é o estabelecimento de um Quadro de Metas em Níveis Articulados de Proficiência e um Exame Estadual ou Nacional com características que pudermos acordar num grande pacto nacional ou regional. A partir dele, aí sim, começaríamos a tratar da formação de professores e de alunos-aprendentes para buscarmos os resultados mais compensadores para o esforço e investimento pela aquisição de uma ou mais línguas na escola.
JP – Algumas escolas particulares estão terceirizando suas aulas de inglês. Essa é a melhor solução para melhorar a qualidade das aulas?
JCPAF – Escolas regulares e escolas de línguas não possuem a mesma natureza. A terceirização seria solução apenas paliativa. O sistema escolar pode responder bem a uma reforma gradual com pressupostos e mecanismos adequados.
JP – Qual a importância da vivência da língua para um bom professor de inglês?
JCPAF – A vivência da língua-alvo no curso de graduação nas universidades e faculdades reformadas segundo uma nova lógica que alcançaria também os cursos de nível superior poderia bastar para o professor que vai iniciar uma carreira. Atividades outras no campo da formação continuada e por obra das associações de professores de línguas poderiam se somar a um sistema de apoio a vivências em países nos quais a língua-alvo fosse falada.
JP – O que fazer para melhorar o nível dos professores de inglês? É importante que eles participem de cursos de atualização ou seminários?
JCPAF – Em primeiro lugar teríamos de estimar o nível de operabilidade comunicacional de cada professor mediante um Exame Nacional ou Estadual de Confiança no Uso da Língua. A partir dessa estimativa, poderíamos estabelecer iniciativas escalonadas que incentivassem os docentes a crescer não só na capacidade de produção na língua mas também nas outras competências profissionais.
Concordo com o professor Almeida Filho. É preciso que o professor de língua inglesa saiba explicar o seu modo de ensinar e , sobretudo, tenha uma competência linguistico-comunicativa ideal para seu of´cio de ensinar uma língua.Um certificado de proficiência seria uma boa idéia, podemos trabalhar para que isto aconteça, seria um grande avanço.
ResponderExcluirIt was a great interview, very well said words by Prof. Almeida. It is true that we as language teachers must identify ourselves with one or more teaching methods, trying to make the most of it. I think we should know our classroom. To whom are we teaching to and why? To be able to recognise, why we teach is one of the first steps towards change. A number of teachers keep repeating a readymade discuss heard along their career. However, they forget to reflect about their own practise. They forget to think why they are there in the first place. Teachers should be ready to answer questions often asked by students especially in public schools such as “Why should I learn English, if I am not going abroad”? In fact, how someone that hasn’t learned even their native language properly wants to learn a foreign Language? We should be aware of our student’s learning necessities, what might work with classroom X might not work with classroom Z. I would also add that any language learning to be effective must go beyond the school’s wall. It must be taken outside the classroom; our government should give more importance to language teaching. We would need that researchers and policy makers work together, so that changes in the foreign language teaching within our school system could take place properly.
ResponderExcluirClarissa.